A governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), tem feito acenos aos deputados estaduais na busca de consolidação de uma maioria na futura composição da Assembleia Legislativa já durante o período de transição. Além disso, assuntos como Carnaval, Covid e finanças do estado são debatidos junto à equipe do atual governo de Paulo Câmara (PSB).
Lyra tomará posse em 1º de janeiro e será a primeira mulher a governar o estado. Já o PSB deixará o poder após 16 anos.
Na quarta-feira (16), a governadora eleita e sua vice, a deputada estadual Priscila Krause (Cidadania), fizeram um almoço com deputados estaduais atuais e eleitos.
Oficialmente, o encontro foi avaliado como um gesto de aproximação com o Poder Legislativo. Nos bastidores, aliados da governadora eleita afirmam que o movimento foi o passo inicial na busca por uma maioria na Assembleia Legislativa na composição que tomará posse em fevereiro. Pernambuco tem ao todo 49 deputados estaduais.
A aliança da nova governadora, eleita no segundo turno, elegeu apenas três deputados estaduais. No entanto, levando em conta o número de deputados que a apoiaram no segundo turno, a quantidade se aproxima de 20, insuflada pelo PP, que elegeu oito deputados, a segunda maior bancada.
Reservadamente, deputados do PP dizem que o caminho natural é seguir com Raquel, como no segundo turno, mas esperam, em troca, cargos ao menos no segundo escalão do governo. O Porto de Suape é um dos órgãos visados pelo partido.
Outra sigla que irá para a base do governo é a União Brasil. Ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho é cotado para o secretariado de Raquel Lyra. Após a derrota no primeiro turno, ele apoiou Raquel na etapa final da eleição.
Um nome dado como certo como secretário é o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania), que não conseguiu a reeleição para a Câmara e é aliado de Raquel desde quando ela era prefeita de Caruaru.
Na Assembleia, a efetivação da maioria é considerada uma questão de tempo por deputados de diversos espectros ideológicos da futura Assembleia e também pelo governo eleito. A busca de deputados pela aproximação com o governo para viabilizar feitos para as bases eleitorais e a dificuldade de formação da oposição vindoura são os fatores que devem ajudar Raquel Lyra.
Parlamentares também esperam que o secretário da Casa Civil, a ser escolhido por Raquel, facilite o diálogo com o governo. Em Caruaru, quando foi prefeita, Raquel teve relação tensa com os vereadores e chegou a ficar um período sem líder do governo na Câmara Municipal.
O PSB, que deixará o Palácio do Campo das Princesas, está dividido. Uma parte da bancada deve aderir à Lyra, enquanto outra ala prega a independência ou uma oposição branda.
“Não teria nenhum sentido eu apoiá-la durante a campanha [do segundo turno] e não apoiar o seu governo”, diz o deputado estadual Rodrigo Novaes (PSB), externando a sua posição pessoal. “Acredito que o PSB irá esperar como a governadora irá se posicionar nas ações e diante do cenário nacional.”
Em dezembro, a bancada eleita do PSB deve se reunir para debater a questão.
“O PSB foi para a oposição no processo eleitoral. Acho que o comportamento dos deputados na Assembleia tem que ser de respaldar tudo que Raquel mande para a Assembleia em favor do estado e ser contra o que não veja sentido”, afirma o deputado estadual Waldemar Borges (PSB).
A sigla elegeu a maior bancada da Assembleia, 14 deputados, mas há integrantes sem afinidade ideológica com a legenda entre os eleitos. Alguns optaram pela filiação ao partido pela maior facilidade em se eleger numa chapa competitiva e porque o partido está à frente do governo. Uma posição oficial ainda não foi tomada.
Partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o PT deve definir apenas em 2023 seu posicionamento. Segundo o presidente do partido em Pernambuco, deputado estadual Doriel Barros, questões nacionais, como a posição do PSDB e de Raquel Lyra em relação a Lula, podem influenciar.
“Temos uma posição constantemente afinada com a [direção] nacional [do PT]. Vamos tomar a decisão da maneira mais ampla possível e precisamos aprofundar a discussão sintonizado com o cenário nacional”, diz Doriel.
O PT deverá discutir junto com PV e PC do B a posição oficial. Os três partidos formarão uma federação nos próximos quatro anos, ou seja, deverão atuar como partido único. O grupo elegeu sete parlamentares para a Assembleia.
No campo da direita, o PL também está sem rumo definido. O presidente do partido em Pernambuco é o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira, que acabou em terceiro lugar na disputa pelo governo estadual. Os cinco deputados da sigla são aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).
No PL, também há defesas múltiplas de posições. A maioria dos deputados do partido apoiou abertamente Raquel Lyra no segundo turno contra Marília Arraes (Solidariedade), mesmo sem a tucana ter oficializado o apoio desejado pelos bolsonaristas à reeleição de Bolsonaro.
“O PL vai decidir e caminhar em bloco. Na minha leitura, não cabe ser oposição a um novo governo em um novo momento de Pernambuco. Cabe à Raquel decidir como o PL poderá ser útil na formação do governo dela”, afirma o deputado estadual eleito Renato Antunes (PL).
As teses de aderir à base do governo ou ficar independente circulam entre os deputados estaduais eleitos pela sigla. O principal foco dos bolsonaristas no estado é articular uma candidatura competitiva para a Prefeitura do Recife em 2024 no enfrentamento à reeleição de João Campos (PSB) e de quem for lançado por Raquel.
Com três deputados eleitos, o Solidariedade, sigla de Arraes, tende a ficar na oposição. Logo após o resultado das urnas, Marília divulgou nota em que disse que atuará na fiscalização do governo eleito. Ela ficará sem mandato a partir de 2023. Outro partido dado como certo na oposição é o PSOL, que teve uma deputada eleita.
No governo eleito, a avaliação é que a adesão e a busca por aliados deve se basear na questão programática. “Isso vai passar por uma decisão dos próprios partidos sobre qual posicionamento eles terão. Mas vamos buscar essa construção da base aliada”, afirma a vice eleita Priscila Krause.
Na parte técnica da transição, o planejamento do Carnaval de fevereiro de 2023, o avanço dos casos de Covid-19, o início do ano letivo na rede estadual de educação e a situação financeira do estado foram os principais assuntos discutidos nos últimos dias.
“Solicitamos o planejamento do que existe. No caso do Carnaval, o estado participa com o patrocínio, divulgação e segurança e precisamos saber como andam as coisas. Nas aulas, queremos saber sobre contratos de merendas e entrega de materiais. As aulas começam um mês após o começo do governo”, disse Krause, que também coordenadora a transição.
A equipe do governo eleito também pediu cautela ao atual governo quanto à possível elaboração de atos administrativos que possam ter reflexo na próxima gestão.
Nas próximas semanas, haverá novos encontros com setores do governo estadual para discutir outros assuntos e aprofundar as atuais discussões. Um calendário de reuniões foi elaborado pela equipe do governo eleito.