Dona Nazidir da Silveira Ferreira mora no distrito de Serro Azul, em Palmares, há 60 anos. Casou-se na comunidade, viu o lugar crescer e acompanhou a construção da barragem, que também recebeu o nome do ex-governador Eduardo Campos. Nos últimos dias, ela tomou a difícil decisão de embalar seus móveis e pertences para deixar a casa junto com o marido.
Vizinha do paredão do reservatório, a aposentada preferiu adotar um comportamento cauteloso e sair antes de um transbordamento do reservatório.
Na semana que passou, Serro Azul foi motivo de polêmica, em função de informações desencontradas por parte do Governo de Pernambuco.
Na quinta-feira (7), a Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) encaminhou ofício à Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco (Codecipe) informando que a barragem poderia sangrar nos próximos dias, quando atingisse uma cota de 198 metros.
Nesta segunda (11), segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), a cota está em 193,43 metros.
Quando a notícia do possível transbordamento foi publicada pela imprensa, o Governo de Pernambuco decidiu desmentir a informação. A mudança de discurso provocou mais insegurança em uma população vulnerável, que já vive sobressaltada aos pés do paredão da barragem.
Emocionada, Dona Nazidir chora por ter que se despedir da sua casa em Serro Azul.
“Estou indo com o coração partido, mas estou indo. Porque a gente não confia nisso aqui”, diz, fazendo referência à barragem. A aposentada não é a única a deixar o lugar. O próprio presidente da Associação de Moradores de Serro Azul, Elson Silva, também pediu quarida na casa do irmão em uma região mais alta.
“Falta informação por parte do governo do Estado para acalmar a população e explicar o que está acontecendo. Por isso, muitos moradores do Distrito estão indo embora. Eu e minha mãe fomos para a casa do meu irmão, na Vila Pena Branca”, afirma.
Com o aumento das chuvas na Zona da Mata ao longo deste inverno, o volume de água na barragem aumentou e começou a sair pela chamada válvula dispersora, que fica na parte de baixo do reservatório.
“É um barulho bonito e assustador ao mesmo tempo para quem está perto”, diz o professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Jaime Cabral.
O especialista explica que a Barragem de Serro Azul é mais sofisticada, porque é mais recente.
“As barragens mais simples só têm um vertedouro, enquanto Serro Azul possui vários vertedores”, observa.
Além do dispersor na parte de baixo, também existe uma saída quadrada no meio da barragem e mais dois vertedores na parte de cima.
A previsão da Seinfra apresentada no ofício prevê que o reservatório sangraria no primeiro vertedouro quando alcançasse uma cota de 198 metros. Nesta segunda (11), Serro Azul estava com 193,43 metros.
Cabral explica que o volume de chuvas na bacia hidrográfica local é que vai definir se a barragem vai transbordar ou não. E isso leva em consideração não só as chuvas no município de Palmares, onde está localizado, o reservatório, mas em toda a bacia do Rio Una.
“Chuvas nos municípios de São Bento do Una, Capoeiras, Cachoeirinha, Altinho, Agrestina, São Joaquim do Monte, Belém de Maria e Bonito contribuem para elevar o nível de água na Barragem de Serro Azul. Por isso, pode acontecer de estar o maior sol em Palmares e ter cheia no rio, por conta das outras cidades. Além disso, a barragem do Prata também fica num afluente do Rio Una e, quando ela verte, a vazão que passa pelo vertedor vai contribuir para encher o Rio Una”, detalha. Neste momento, a Barragem do Prata está vertendo.