
A logística reversa, vista antes apenas como custo e desafio para o e-commerce, vem se consolidando como um diferencial competitivo no Brasil. Devoluções e retiradas de pacotes estão se transformando em oportunidade de negócios. Com mais de 7,5 mil pontos de coleta em operação, Mercado Livre e Shopee transformaram pequenos comércios em pontos logísticos, ampliando a conveniência para consumidores e criando novas fontes de receita para empreendedores de menor porte.
Ao integrar papelarias e lojas de bairro como locais de retirada e coleta, grandes marketplaces descentralizam a operação logística e movimentam a economia de centenas de cidades brasileiras.
O Mercado Livre, pioneiro nesse modelo, conta hoje com mais de 4.500 comércios parceiros espalhados pelo país, os chamados “Meli Places”. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, Curitiba e Brasília estão entre as cidades com maior concentração de pontos.
Segundo Frederico Rezeck, diretor sênior de Transportes do Mercado Livre no Brasil, o projeto nasceu da necessidade de oferecer flexibilidade ao consumidor. “A inovação surgiu para melhorar a experiência de quem não está em casa durante o dia e precisa retirar suas encomendas em horários convenientes. Ao mesmo tempo, os vendedores ganham mais eficiência na malha logística e os comércios locais encontram uma nova fonte de renda”, diz.
Para o pequeno comércio, ser parte da engrenagem de gigantes como Mercado Livre e Shopee significa não só aumentar o faturamento, mas também se inserir em um mercado de alto crescimento.
Além de reduzir custos e otimizar rotas de transporte, os Meli Places movimentam a economia local. Estimativas da empresa mostram que 40% dos clientes que retiram pacotes em um ponto parceiro acabam comprando algo no local, gerando receita extra para o comerciante.
Há 17 anos, Gloria de Paula tem uma papelaria no bairro da Bela Vista, São Paulo. O local virou um ponto logístico do Mercado Livre, em 2018. São cerca de 7 mil pacotes recebidos, por mês. Uma parceria que hoje já é responsável por mais de 50% do faturamento da loja. “Foi o que me salvou durante a pandemia. A gente recebe um valor fixo estipulado por pacote. É um sistema muito bom e simples”, afirma.
Hoje, além do Mercado Livre a comerciante também já é ponto de entrega e devolução de outras duas varejistas digitais “Acho que veio mesmo para ficar esse sistema. Assim, não precisamos ir mais aos Correios, pegar filas e demorar. O motorista vem todo dia no horário marcado e retira ou entrega as encomendas. Para mim, como comerciante, vale muito a pena”, reforma.
Têndencia logística e econômica
A Shopee, por sua vez, já reúne 3 mil agências da marca em mais de 500 cidades brasileiras. Desde 2024, esses estabelecimentos funcionam como pontos de postagem para vendedores, locais de retirada de compras para consumidores e de logística reversa.
Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Guarulhos concentram o maior número de agências. Desde maio de 2025, a plataforma também passou a oferecer a opção de retirada de pedidos em comércios parceiros, reforçando a estratégia de conveniência. “Consumidores têm mais praticidade, comerciantes conquistam novas oportunidades e nossa operação logística se torna ainda mais eficiente”, afirma Tiago Freddi, Head de Logística da Shopee.
Há quase dois anos, William Mendonça viu o movimento da loja de artigos de plástico, na região central de São Paulo, crescer depois que virou uma agência Shopee. “Eu recebo cerca de 300 pacotes por dia. O cliente vem retirar o produto e acaba vendo outro na loja e levando também. Isso fez nosso faturamento aumentar consideravelmente ajudando a diminuir outros custos”, conta.
Para o lado do consumidor, esse tipo de logística com a possibilidade de retirar ou devolver pacotes em horários flexíveis e em locais próximos de casa, também é um atrativo. “Além de movimentar mais meu comércio, eu mesmo como consumidor sentia dificuldades para enviar um pacote. Isso também me motivou em me tornar um ponto parceiro da shopee”, explica William.









