Há 15 anos vivendo no Brasil, o jornalista britânico Dom Phillips, 57, assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, estava escrevendo um livro que tinha tudo a ver com sua viagem a Atalaia do Norte (AM): “Como Salvar a Amazônia”.
Qualificado pelos amigos como generoso, cuidadoso, gentil e solícito, Phillips, que foi morto junto com o indigenista Bruno Pereira, 41, cresceu em Bebington, cidade 8 km ao sul de Liverpool, na Inglaterra.
Quando jovem, tocava nas ruas em busca de dinheiro. Começou sua carreira jornalística cobrindo o cenário da música eletrônica e foi editor da revista Mixmag.
O britânico escreveu um livro sobre o nascimento da cultura dos DJs e, em 2007, viajou ao Brasil atraído por colegas da área musical.
A ideia inicial era ficar alguns meses em São Paulo, mas se sentiu tão em casa no país que decidiu se mudar de vez.
Ele também morou no Rio de Janeiro, onde gostava de andar de bicicleta e de fazer stand-up paddle, e, nos últimos meses, se mudou para a Bahia, estado de sua mulher, Alessandra Sampaio.
Em sua trajetória profissional morando no Brasil, Phillips passou muitos anos trabalhando como freelancer para o jornal britânico The Guardian. Também escreveu para The New York Times, Washington Post, Financial Times e The Intercept.
Ele conhecia muito bem a Amazônia e tinha uma grande experiência de trabalho junto aos povos indígenas, habilidades que adquiriu por ter se dedicado a essa cobertura praticamente desde o momento em que chegou ao país.
Fez em sua trajetória várias viagens em áreas de conflito e viabilizou a produção do livro depois de ter sido selecionado para uma bolsa da Alicia Patterson Foundation.
Em 2019, Phillips se tornou alvo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) após questioná-lo em um evento a respeito da escalada do desmatamento na Amazônia. O vídeo foi replicado nas redes bolsonaristas e ganhou milhares de visualizações.
“Primeiro, vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é essa daí”, respondeu Bolsonaro ao jornalista que amava o Brasil e a Amazônia, conforme relatou sua mulher na semana passada, ao fazer um apelo para que o governo intensificasse as buscas pelos desaparecidos.
“Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui”, disse.
Depois do episódio de 2019, que o abalou, Phillips passou a ser reconhecido na região amazônica como “o jornalista que levou um esporro do Bolsonaro”, relata o amigo Andrew Fishman, também jornalista, que contribui com o The Intercept.
Em sua jornada em terras brasileiras, foi voluntário para ensinar inglês em favelas do Rio e, na curta estadia como morador da Bahia, dava aulas numa ONG.
Suas últimas postagens no Twitter, em 31 de maio, foram de reportagens do The Guardian sobre a Rússia e da Folha sobre o apoio do agronegócio a Bolsonaro.
Da redação do PortalPE10,com informações do Folha de São Paulo.