Brasil

Inflação sob Bolsonaro é de quase 27%, maior desde Dilma


Foto: Reprodução Internet

A inflação oficial do Brasil acumulou alta de 26,93% ao longo do mandato de Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022, apontam dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Trata-se do maior avanço dos preços desde o primeiro governo de Dilma Rousseff (PT). A inflação chegou a 27,03% no acumulado de 2011 a 2014, os quatro anos iniciais de Dilma na Presidência.

O IPCA é divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e as variações em cada governo foram levantadas pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

Imaizumi ressalta que o IPCA só não teve uma alta mais intensa sob Bolsonaro devido aos cortes tributários adotados pelo ex-presidente às vésperas das eleições de 2022.

Medidas como o teto do ICMS (imposto estadual) e a desoneração de tributos federais reduziram preços de gasolina e energia elétrica no ano passado.

Segundo Imaizumi, o principal fator responsável pela inflação no governo Bolsonaro foi a pandemia de Covid-19.

Nesse sentido, o economista lembra que a crise sanitária interrompeu e desalinhou cadeias produtivas globais, gerando escassez de matérias-primas e pressões de custos sobre empresas.
O registro de problemas climáticos no Brasil e a Guerra da Ucrânia também deixaram alimentos mais caros nos últimos anos, acrescenta Imaizumi.

“A inflação atingiu itens básicos para a sobrevivência”, afirma o economista, em referência à carestia da comida na era Bolsonaro.

A inflação dos alimentos castiga sobretudo as famílias pobres, que destinam, proporcionalmente, uma fatia maior do orçamento para a compra desses produtos.

O economista Pedro Dutra Fonseca, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), também avalia que o IPCA foi pressionado no último mandato presidencial por questões como a pandemia e os choques climáticos.

Fonseca ainda chama atenção para o efeito da taxa de câmbio em patamar elevado, acima de R$ 5. O dólar avançou em momentos de tensão política protagonizados por Bolsonaro e pressionou o custo de insumos.

“Teve a parte da pandemia, da desorganização das cadeias produtivas. Houve questões internas, como os fatores climáticos, as secas”, diz o professor. “A parte do câmbio foi muito pressionada”, acrescenta.

No primeiro mandato de Dilma (2011 a 2014), o país ainda viveu um período de atividade econômica aquecida com gastos públicos elevados antes da crise de 2015 e 2016, aponta Imaizumi.

Segundo ele, as políticas adotadas à época acabaram impulsionando a demanda, até de maneira artificial. Essa demanda, conclui, contribuiu para o IPCA ter acumulado alta de 27,03% ao longo dos quatro anos iniciais do governo da ex-presidente.

“Teve um período em que a economia ainda bombou, com a demanda aquecida gerando inflação. Foi um governo marcado pelos gastos públicos.”

O economista André Perfeito também considera que a demanda aquecida antes da recessão contribuiu para a alta dos preços à época. “Isso trouxe uma persistência maior para a inflação.”

Nos quatro anos seguintes, de 2015 a 2018, quando o Brasil teve dois presidentes, Dilma e Michel Temer (MDB), o IPCA acumulado desacelerou para 25,64%.

Contudo, antes do impeachment da ex-presidente, confirmado em 2016, o índice oficial ainda foi pressionado por preços administrados, como energia e gasolina.

Em paralelo, a turbulência política do pré-impeachment mexeu com o câmbio. Só em 2015, o IPCA acumulou alta de 10,67%, a maior desde 2002.

A inflação cedeu ao longo do governo Temer, chegando a marcar 2,95% em 2017. Naquele ano, houve queda dos preços dos alimentos em um cenário de oferta maior com as boas condições de safra.

Parte dos analistas considera que o baixo crescimento econômico após a recessão não foi capaz de gerar um grande impulso para a demanda por bens e serviços no governo Temer. Sem uma procura tão aquecida, os preços não tendem a subir tanto.

“A atividade fraca impactou para uma inflação mais baixa”, avalia Perfeito.

Desde a implementação do Plano Real, em 1994, o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de 1995 a 1998, foi aquele com o maior IPCA acumulado. O índice alcançou 43,46% nesses quatro anos.

No segundo mandato de FHC, de 1999 a 2002, a taxa desacelerou para 39,88%.

Segundo economistas, as altas podem ser interpretadas como um rescaldo do período de hiperinflação no Brasil, deixado para trás após o Plano Real.

“Estávamos ainda combatendo o que a gente não tinha conseguido combater antes. É esperado que essas variações [nos governos FHC] sejam maiores”, avalia Imaizumi.

Outro fator para explicar a inflação mais intensa à época, dizem economistas, é o registro de turbulências vindas do cenário externo.

“Uma parte da inflação foi herdada [do período de hiperinflação], e também teve a conjuntura da época”, diz Fonseca.

Nos dois mandatos seguintes, ambos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o IPCA acumulado seguiu em trajetória de desaceleração. A taxa foi de 28,20% no período de 2003 a 2006 e de 22,21% de 2007 a 2010.

Um dos motivos para esse movimento, segundo analistas, é a trégua do dólar, que havia saltado em 2002 diante do temor de investidores com a chance de vitória de Lula nas eleições.

“O primeiro governo Lula começou com um choque cambial muito forte, que depois foi resolvido em parte com o Henrique Meirelles [ex-presidente do BC] elevando juros”, afirma Perfeito.

A melhora das expectativas de investidores ao longo da gestão do petista também ajudou nesse processo.

“Havia uma incerteza sobre o que seria o governo Lula [a partir de 2003]. Lula assumiu com o real desvalorizado. Com a política feita pelo governo, mais ortodoxa, houve uma queda gradual da taxa de câmbio”, avalia Fonseca.

Em 2023, Lula assumiu seu terceiro mandato com a inflação ainda pressionada por itens como os alimentos. Investidores do mercado financeiro já demonstraram temor com os possíveis gastos do novo governo.

Em um cenário de incertezas fiscais, a alta prevista para o IPCA de 2023 subiu de 5,31% para 5,36%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC (Banco Central) na segunda (9).

Marcelo Passos

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