Preocupado com o impacto da inflação na campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deu aval ao uso de até R$ 46,4 bilhões em recursos públicos para subsidiar combustíveis, enquanto o governo mantém 699,3 mil famílias em situação de extrema pobreza na fila de espera do programa Auxílio Brasil.
Essas famílias sobrevivem hoje com renda mensal de até R$ 105 por pessoa, no momento em que a inflação está elevada e o mercado de trabalho ainda não se recuperou de forma vigorosa.
Outras 65,2 mil famílias em situação de pobreza, com renda mensal de R$ 105,01 a R$ 210 por pessoa, também estão habilitadas ao programa, mas não tiveram o benefício concedido pelo governo. São domicílios com gestantes, nutrizes ou ao menos uma criança ou jovem de até 21 anos.
Ao todo, a fila reconhecida pelo Ministério da Cidadania era de 764,5 mil famílias em maio de 2022, segundo dados da pasta obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Especialistas avaliam que o estoque de pedidos represados deve crescer nos próximos meses, uma vez que a perda do emprego e o encarecimento de produtos, sobretudo alimentos, têm ampliado o número de famílias que precisam de ajuda para suprir necessidades básicas.
No mês passado, o programa —criado no lugar do Bolsa Família para ser a vitrine social de Bolsonaro— pagou um benefício médio de R$ 409,51.
Considerando esse valor e o número de famílias habilitadas, mas à espera do benefício, o custo de zerar a fila atual seria de R$ 1,88 bilhão até o fim de 2022, ou R$ 3,76 bilhões em um ano cheio.
O valor demandado em um ano cheio representaria apenas 8,1% do custo do pacote focado em combustíveis, anunciado em 6 de junho pelo próprio presidente e seus ministros em coletiva no Palácio do Planalto.