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Exploração:Mulher paga R$ 144 por 4 garrafas de água e 2 biscoito após tragédia em SP

Em | Da Redação com informações de Agência O Globo

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Exploração:Mulher paga R$ 144 por 4 garrafas de água e 2 biscoito após tragédia em SP
Julia Arriero e Flávio Lobo ficaram presos em Sertão de Camburi — Foto: Reprodução

 

O feriado prolongado do carnaval à esperava a cerca de 700km de Brauna, cidadezinha de 4 mil habitantes no interior de São Paulo. A sexta-feira da folia, no sertão de Camburí, em São Sebastião, no litoral norte, foi de muita praia e nem de longe prenunciava a tragédia do fim de semana, que já tem 54 mortos. No sábado, estrondos, pancadas de chuva e enxurrada foram o sinal de alerta para deixar o imóvel de um amigo, num condomínio de classe média alta. Julia Arriero de Souza e o namorado Flávio Lobo pressentiram que era perigoso ficar e decidiram voltar para a casa, no domingo de manhã, mas já encontraram todos os caminhos fechados. Barrancos tinham despencado, havia lama por todo lado e, sem sinal de internet, não dava para saber como estavam os acessos. Hotéis viraram refúgio e ficaram superlotados, e o comércio fechou.

No meio da destruição que e espalhava rapidamente, sem ter para onde ir e sem comida, o casal e mais dois amigos viveram horas de medo e incertezas, sob o temporal inclemente, vendo o corre-corre de pessoas desesperadas e de voluntários incansáveis, tudo de dentro do carro. Com sorte, escaparam da morte. Com a ajuda de uns, tiveram pernoite no pátio de um posto de gasolina, com direito à marmita feita por uma voluntária, e, dada a ganância de outros, desembolsaram R$ 144 por quatro garrafinhas de água e dois pacotes de biscoito.

— Nós tivemos muita sorte. O que vimos foi muito pior, tudo muito triste, imagens inesquecíveis — diz Julia. — Quando a gente conseguiu sair de lá (da casa), a gente foi para a rua. Assim que saímos, deslizou a estrada e não conseguíamos voltar para a casa onde estávamos e nem era seguro. Era domingo e não conseguimos lugar para ficar. Os hotéis estavam lotados, as pousadas todas estavam inundadas. Nós ficamos na rua. Estávamos sem alimento e sem água. Na segunda-feira de manhã, vinte e quatro horas depois, a gente conseguiu chegar à Barra do Sahy. Só tinha um estabelecimento aberto. Fomos comprar água, aqueles fardinhos com garrafinhas de 300 ml, dava um total de quatro litros. Pegamos dois pacotes de salgadinhos, pequenos, que normalmente vendem para o pessoal levar para a praia. Na hora de pagar, eles só aceitavam PIX porque não tinha energia para passar cartão e não queriam dinheiro também. Na hora de pagar, eles disseram que era R$ 87,50 a água, para ser exato, e o total, com os dois salgadinhos, dava R$ 144. A gente via que era sem base nenhuma. Eles olhavam para a gente e para o produto e davam um valor. Era assim. Eu fiquei roteando internet com outras pessoas que estavam sem sinal e vi gente pagando por seis pães quase R$ 60. Eles não forneciam nota fiscal, nada, e os produtos estavam sem preço nas prateleiras.

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