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Estelionato dispara e Brasil tem 208 golpes por hora

Crime de estelionato foi um dos índices apontados pelo 17º Anuário de Segurança Pública

Em | Da Redação

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Estelionato dispara e Brasil tem 208 golpes por hora
Crime de estelionato foi um dos índices apontados pelo 17º Anuário de Segurança Pública

Depois de ver shows de samba no Bixiga, na região central de São Paulo, Rafael DeLuca, 28, parou em uma lanchonete a cerca de 1 km dali para comer. Quando foi pagar a conta, percebeu que o cartão bancário não era seu.

Naquele momento, ele acionou o atendimento do banco e descobriu que diversos saques tiraram todas as suas economias da conta, cerca de R$ 10 mil. O cartão bancário do executivo de comunicação havia sido trocado por um golpista que vendia bebidas como ambulante no samba.

“Eu estava disperso, era na rua. Fui passar o cartão e ele disse que a maquininha não estava com sinal. Em certo momento, ele se virou, de alguma forma capturou a senha com a máquina e trocou meu cartão sem que eu visse.”

O caso aconteceu em março do ano passado e fez parte de um dos principais tipos de crime contra o patrimônio praticados em 2022. É o que mostram dados do 17º Anuário de Segurança Pública publicados nesta quinta-feira (20).

O estelionato passou de 1,8 milhão de casos, com crescimento de 37,9% entre 2021 e o ano passado. Já o estelionato eletrônico acelerou, com aumento de 65,2 e chegou a 200,3 mil ocorrências, segundo as informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O segundo crime foi definido em lei em 2021, e tem penas maiores do que o crime clássico, quatro a oito anos (contra um a cinco anos). O estelionato eletrônico se caracteriza pelo uso de redes sociais, contatos telefônicos ou o envio de emails para induzir a pessoa à fraude, por exemplo.

Seis estados, incluindo São Paulo, não forneceram dados sobre o crime. Isso pode indicar, segundo o Fórum, que os casos acabam sendo registrados como estelionato por causa do pouco tempo da definição legal de fraude eletrônica.

Supondo que Rafael teve o cartão trocado por volta de 0h e percebeu a fraude às 4h, cerca de 832 golpes poderiam ter sido aplicados naquele período —208 por hora, segundo os dados do anuário.

Centro financeiro e populacional do país, São Paulo é o estado com o maior número de ocorrências, segundo os dados das pastas de Segurança Pública e órgãos correlatos nos estados. Foram 638.629 golpes registrados no ano passado, contra 382.110 em 2021.

Na comparação proporcional, da taxa de ocorrências em relação à população de cada estado, São Paulo fica atrás do Distrito Federal, que lidera as unidades federativas com 1.832,3 registros de estelionato a cada 100 mil habitantes.

Depois do susto, Rafael precisava dar conta dos prejuízos. “Veio tudo na minha mente, você aceita que caiu em um golpe. Abri o aplicativo e vi que limparam a conta em dez minutos com oito transações.”

Às 5h, ainda na mesma madrugada, ele registrou um boletim de ocorrência eletrônico. “O que me salvou foi que na hora que o ladrão estava fazendo as transações eu ainda consegui que bloqueassem uma de R$ 900, comprovando que não era eu que estava sacando.”

Depois, ele registrou boletins para o roubo do cartão de banco e do roubo do dinheiro. Como era um banco digital, Rafael precisou encarar mensagens que indicavam um desfecho ruim. “Disseram para realinhar minhas expectativas sobre a devolução do dinheiro. Mas minha mãe foi bancária a vida toda, e me passou alguns caminhos.”

Sem dinheiro para pagar o aluguel do mês, ele ficou aliviado quando, com a ajuda da mãe, conseguiu recuperar cerca de 90% do valor na semana seguinte. “Segurança foi a principal falha, porque o aplicativo não bloqueou as transações estranhas para o horário e meu padrão de consumo.”

ROUBOS DE CELULAR E CARROS TAMBÉM CRESCEM
Indicadores que geram apreensão inclusive por golpes de estelionato em meio eletrônico, como PIX, os roubos e furtos de celulares cresceram 16,6% entre 2021 e 2022, chegando a quase 1 milhão de casos (999,2 mil).

As ocorrências em São Paulo chegaram a 346.518 no ano passado. Se considerada a taxa proporcional a cada 100 mil habitantes, o Amazonas lidera (1.015,1), seguido pelo Distrito Federal. (1.008,3).

Os roubos e furtos de veículo, também considerados crimes contra o patrimônio, cresceram 8% entre 2021 e 2022, com 373.225 ocorrências registradas no ano passado.

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