Agora que sabe da violência que a filha foi vítima, a mãe diz ter percebido sinais de que algo estava acontecendo com a filha, mas que na época não tinha entendido.
“Desde os cinco anos de idade ela sofria com infecção de urina constante, corrimentos, mas eu levava no pronto-socorro e nunca descobri nada. O pai dela falava que era normal, porque ela não se secava direito após o banho ou por causa da imunidade baixa, então acabamos tratando a infecção sempre que aparecia, como se fosse comum. Hoje já percebo que era por causa dos abusos que desde essa época ela era vítima”, contou.
Ainda segundo a mãe, o pai era ciumento com a filha, super protetor e estava sempre com ela. O que achava ser uma demonstração de afeto e carinho, agora acredita ser na verdade uma forma de ter a menina sob controle, por medo de que ela revelasse os abusos.
“Ela contou que ele tinha vontade de me pedir ajuda, mas que o pai a ameaçava. Ele dizia que ela contasse pra alguém o que ele fazia, seria preso, sofreria muito na cadeia e que nunca mais veria ela nem os irmãos e assim ele ia fazendo ela se sentir culpada e com medo de denunciar a situação, presa nesse segredo”, disse.
Traumas
A mãe conta que os trauma dos anos de abuso sexual são difíceis de enfrentar, mesmo com o apoio da família e dos psicólogos. A menina passou a ter crises de ansiedade e teme a todo momento reencontrar com os abusadores.
“Ela sempre teve problemas pra dormir, chorava à noite, tinha pesadelos e agora está pior, ela está sofrendo de crises de ansiedade. Desde que o pai fugiu, ela teme que ele volte e acorda assustada, achando que ele está no quarto dela, na janela ou até em cima do telhado. Estamos fazendo acompanhamento psicológico, para tratar esse trauma que destruiu a infância dela, mas vai ser um processo longo”, disse.
Uma das formas de se expressar sobre os traumas é por meio da escrita. Sem conseguir falar ou desenhar o que sofria, a menina passou a escrever a violência que foi vítima. Além de ser um desabafo, as cartas vão ser úteis na investigação.
Em uma carta, a menina contou que o pai e o avô colocavam as mãos nas partes íntimas e que abusavam dela. “Doía muito, eu falava para ele, mas ele continuava”, narrou a menina em trecho da carta. A família busca agora por justiça e faz um apelo para que os abusadores sejam presos.
“Eu quero justiça, peço por isso todos os dias a Deus. Nada vai tirar o trauma da minha filha, a dor que ela sentiu todos esses anos e que ainda está sentindo. Nada vai pagar o que eles fizeram com uma inocente, mas a gente só vai conseguir recomeçar, deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilas quando eles forem presos”, afirmou.
O que diz a polícia
De acordo com a Polícia Civil, o pai da menina tem 33 anos e trabalhava como gesseiro. Ele está sendo investigado pelo crime, mas ainda não foi localizado para prestar depoimento. Uma medida protetiva foi expedida, que proíbe a aproximação dele com a filha.
O avô tem 78 anos, é um pedreiro aposentado e também é investigado pelo crime. Ele já prestou depoimento sobre o caso e nega os abusos.
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a caso segue sendo investigado, sob sigilo, na Delegacia da Mulher de São José dos Campos. A equipe da unidade ouviu a representante da vítima e aguarda o resultado dos laudos periciais para análises e esclarecimentos dos fatos.