Uma paciente de Giovanni Quintella Bezerra, preso na segunda-feira (11) por estupro durante uma cesariana, contou que estranhou o procedimento adotado pelo anestesista quando teve o seu terceiro filho, no dia 5 de junho.
“Não sei se aconteceu alguma coisa comigo, estava sedada, mas quando vi na TV fiquei desesperada. A única coisa que me recordo da cirurgia é da voz dele. Ele ficava falando baixinho ao meu ouvido, isso me incomodava. Ele perguntava se eu estava bem”, disse a técnica de radiologia, N.G.
A mulher de 30 anos disse que foi “completamente sedada” e que isso não aconteceu nas outras cirurgias.
“Estranhei porque fui completamente sedada, com anestesia geral. Essa é minha terceira cesárea e nunca aconteceu isso das outras vezes”.
“Depois fiz uma laqueadura e lembro de ter ficado com dor na nuca, fiquei lerda e não achei normal que a dor na cabeça não passava. Não posso garantir se aconteceu alguma coisa, estava inconsciente, mas não notei nada diferente no meu corpo”, completou.
Ela esteve na manhã desta terça-feira (12) na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São João de Meriti (Deam), na Baixada Fluminense, onde vítimas do caso são ouvidas.
“Isso que ele fez é uma violência com a gente e com a família. A gente não tem segurança no momento mais feliz da nossa vida. Deus queira que ele seja o único (estuprador), porque ele já foi preso e a Justiça já foi feita. Mas é importante que outras mulheres venham à delegacia para denunciar essa violência”.
O marido da vítima disse que, depois que o bebê nasceu, ele teve de deixar a sala de parto, e ao contrário do nascimento dos outros filhos, não ficou com a mulher até o final.
“Depois que eu saí, ela foi sedada. Tudo isso é revoltante”, disse o marido.
Outras duas pessoas que disseram ser pacientes de Giovanni também foram à delegacia. Elas estavam com os bebês no colo.
Além das vítimas, a Deam também ouviu uma médicos e enfermeiros.
Paciente diz que teve ‘apagão’
Uma das possíveis vítimas do anestesista, que não quis se identificar, disse que teve bebê no dia 3. A mulher de 37 anos contou que passou por um parto complicado, teve pressão alta, precisou de transfusão de sangue, mas estranhou a sedação.
“Ele me tranquilizou, disse que ia me anestesiar, que era só pra eu relaxar. Eu apaguei e só acordei quando ele já estava limpando as mãos ou tirando as luvas. Não sei bem, estava tudo embaçado ainda”.
E completou:
“É uma situação muito delicada. Ninguém entra numa cirurgia preocupada se vai acontecer alguma coisa, se vai ser abusada. O que me preocupou, e que falei pra minha mãe e meu companheiro, foi a sedação, o apagão. Quando vi o caso na TV foi um susto. A gente fica pensando, será que aconteceu? Será que ele conseguiu? É muito dolorido. A gente não está saindo na noite, é muito delicado”, disse.
O advogado da Fundação Saúde, Bruno Rocha, falou que ao menos cinco enfermeiros e técnicos que filmaram o anestesista e mais duas médicas do Hospital da Mulher Heloneida Studart prestaram depoimento nesta terça. Ele disse que todos ficaram surpresos com a atitude do médico.
“Todos ficaram surpresos, não acreditavam no que estava acontecendo e decidiram filmar. Eles contaram que o fato ocorreu após o parto”, disse o advogado.
Representantes da OAB Mulher de São João de Meriti, Talita Teixeira e Diana Jacob também estiveram na Deam. Elas foram se informar sobre o caso e colocar a instituição à disposição das vítimas que não tenham advogado. Elas vão entrar em contato com a Defensoria Pública para dar um suporte jurídico a quem precisar.
A audiência de custódia do médico foi confirmada para as 13h desta terça. Na sessão, a Justiça decide se mantém o médico preso — o flagrante pode ser convertido em prisão preventiva.
No início da tarde de segunda, Giovanni foi transferido para o presídio de Benfica, na Zona Norte.
A prisão
Em um vídeo, Giovanni pareceu surpreso ao receber voz de prisão da delegada Bárbara Lomba e, principalmente, ao saber que tinha sido gravado abusando da paciente.
A polícia agora tenta descobrir outras possíveis vítimas do anestesista.
A TV Globo teve acesso ao vídeo da prisão. Giovanni foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão.
Processo de expulsão
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu nesta segunda-feira (11) um processo para expulsar Giovanni.
Clovis Bersot Munhoz, presidente do Cremerj, disse que “as cenas são absurdas”.
A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde, a que o Hospital da Mulher de Vilar dos Teles, em São João, está subordinado, repudiaram a conduta do médico.
“Informamos que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas, além de notificação ao Cremerj. A equipe do Hospital da Mulher Heloneida Studart está prestando todo apoio à vítima e à sua família”, afirmaram.
“Esse comportamento, além de merecer nosso repúdio, constitui-se em crime, que deve ser punido de acordo com a legislação em vigor”, continua a nota.
A direção do hospital informou que abriu uma sindicância interna e notificou o Cremerj.
A defesa do anestesista disse que aguarda acesso à íntegra dos depoimentos para se manifestar.
Funcionárias desconfiaram e gravaram
Enfermeiras e técnicas do Hospital da Mulher gravaram Giovanni abusando da paciente na madrugada de segunda-feira. O vídeo serviu de prova para a prisão em flagrante.
As funcionárias vinham desconfiando do comportamento do anestesista e estranhavam, por exemplo, a quantidade de sedativo aplicado nas grávidas.
As enfermeiras e técnicas responsáveis pelo flagrante contaram que, no domingo (10), o médico já tinha participado de outras duas cirurgias em salas onde a gravação escondida era inviável.
Na terceira operação do dia, elas conseguiram, de última hora, trocar a sala, esconder o telefone e confirmar o flagrante.
No vídeo do flagrante, a paciente está deitada na maca, inconsciente. Do lado esquerdo do lençol, a equipe cirúrgica do hospital começa a cesariana.
Enquanto isso, do lado direito do lençol, a menos de um metro de distância dos colegas, Giovanni abre o zíper da calça, puxa o pênis para fora e o introduz na boca da grávida.
A violência dura 10 minutos. Enquanto abusa da gestante, o anestesista tenta se movimentar pouco para que ninguém na sala perceba. Quando termina, pega um lenço de papel e limpa a vítima para esconder os vestígios do crime.
Nota de defesa de Giovanni Quintella
“A defesa alega que ainda não obteve acesso na íntegra aos depoimentos e elementos de provas que foram produzidos durante a lavratura do auto de prisão em flagrante. A defesa informa também que após ter acesso a sua integralidade, se manisfestará sobre a acusação realizada em desfavor do anestesista Giovanni Quintella”.
Da redação do PortalPE10, com informações do G1.