O Brasil registrou 17.123 casos de câncer em crianças e jovens até 19 anos em 2021, um aumento de 208% na comparação com os 5.557 registros nessa faixa etária em 2013, segundo informações do DataSUS. Os diagnósticos que triplicaram no período com frequência são obtidos tardiamente, prejudicando a recuperação.
Maristella Bergamo Francisco dos Reis, integrante da Sobope (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica), conta que muitas vezes os sinais passam despercebidos pelos profissionais de saúde e que, se o médico suspeitar já na primeira consulta, a chance da criança aumenta muito.
Segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), cerca de 80% das crianças e adolescentes com câncer podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados. A estimativa de sobrevida no país para essa faixa etária é de 64%, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
“Os pais, a família e os professores têm de ficar atentos, mas para o profissional de saúde é uma obrigação cogitar que há alguma coisa errada, pedir exames e encaminhar para centros de referência em oncologia para que a criança seja diagnosticada precocemente”, afirma a médica.
Como forma de tentar reduzir o diagnóstico tardio, a Sobope e a SBP enfatizam no Setembro Dourado –iniciativa de conscientização para o câncer infantojuvenil– sinais e sintomas de diferentes tipos de tumores. “Infelizmente, ainda pegamos muitos casos de câncer avançado por falta de atenção ou de conhecimento, crianças que ficaram andando de pediatra em pediatra até alguém suspeitar”, diz Reis, que atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP.
“As chances de cura, a sobrevida, a qualidade de vida do paciente e a relação efetividade/custo da doença são maiores quanto mais precoce for o diagnóstico do câncer”, reforça a SBP em documento científico lançado no último dia 22.
Entre os principais tipos de câncer nessa fase estão as leucemias, linfomas e tumores de sistema nervoso central, porém há diversas outras neoplasias, incluindo tumores renais, ósseos e nos olhos, como o retinoblastoma diagnosticado na filha dos jornalistas Tiago Leifert e Daiana Garbin.
O Inca lista ainda como sinais de alerta fatores como palidez, caroços, perda de peso, sudorese noturna, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos, tontura e perda de equilíbrio.
Como esses sinais e sintomas são comuns a outras doenças da infância, pode ser difícil o reconhecimento imediato, então é importante observar a persistência do quadro.
“Quando a criança chega ao pronto-socorro com uma dor na perna, o médico pensa em diversas outras possibilidades e não em câncer, então insistimos na questão da persistência. Se os sinais e sintomas persistem ou progridem de forma muito rápida, aí sim consideramos a possibilidade”, explica Reis.
Para a médica, o aumento dos diagnósticos nos últimos anos está relacionado a fatores como maior atenção ao câncer infantojuvenil, acesso a exames e mudanças no encaminhamento dos pacientes para os centros de referência.
Ela afirma que os tratamentos também evoluíram e hoje o cuidado inclui minimizar as chances de problemas no crescimento ou reprodutivos, inclusive englobando preservação de óvulos e sêmen.
Por fim, ressalta que o país possui agora 25 centros na Aliança Amarte, incluindo o HC de Ribeirão Preto, e a expectativa é equalizar as melhores estratégias para diagnóstico precoce e aumentar as taxas de cura.
*As informações são da Folhapress.