De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a varíola dos macacos já se espalhou por 92 países, provocando 35 mil diagnósticos e 12 mortes. O Brasil é um dos países que têm “tendências preocupantes”, segundo destacou Rosamund Lewis, líder técnica da OMS no combate à monkeypox, já que o número de casos vem crescendo aceleradamente. A testagem para a doença ainda não é oferecida de forma ampla no país e a vacina não está disponível por aqui.
O aumento dos casos de monkeypox exige diagnóstico mais rápido e preciso. Segundo a infectologista Melissa Valentini, do Grupo Pardini – rede de medicina diagnóstica que disponibiliza o teste PCR para diagnóstico da doença -, nesse momento é importante ampliar o acesso ao teste para diagnóstico diferencial.
“Os sintomas da monkeypox se assemelham ao de outras doenças que evoluem com lesões vesicopustulosas como varicela-zóster, herpes-zóster, herpes simples, molusco infeccioso e reações alérgicas. E também se confundem com infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), especialmente infecção gonocócica, sífilis primária ou secundária, cancróide, linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal. Só o exame pode dar o diagnóstico correto”, explica a médica.
Melissa Valentini enfatiza que o diagnóstico precoce permite que o paciente siga as recomendações de isolamento. Por isso, o exame deve ser feito o quanto antes. Ela reforça ainda que pessoas com erupção cutânea sugestiva devem ser investigadas e testadas para diagnóstico da monkeypox, mesmo que outros testes para diferentes doenças também sejam positivos.
“A infecção pela varíola do macaco associada a outras IST’s foi observada em 29% das pessoas testadas, segundo estudo britânico publicado no The New England Journal of Medicine. Sífilis, gonorreia e clamídia foram as doenças mais prevalentes”, esclarece a infectologista.
De acordo com a médica, além do isolamento por parte do paciente infectado, a testagem possibilita ainda o rastreio de contatos e a notificação às autoridades sanitárias. “O única maneira de conter a transmissão da varíola do macaco é testando e rastreando os contatos próximos. Os infectados precisam se isolar”, alerta.
A transmissão do vírus pode ocorrer de diferentes formas. A principal delas é pelo contato próximo de pessoas infectadas com outras pessoas, através das lesões na pele ou objetos contaminados, como roupas e lençóis. A transmissão pelo ar pode ocorrer quando o contato é muito próximo, prolongado e sem o uso de máscara. Contato físico íntimo, como abraços, beijos e contatos sexuais, podem transmitir o vírus. Grávidas também podem transmitir o vírus para os fetos.
Os macacos não transmitem a doença. Na África, onde temos casos humanos desde a década de 1970, a transmissão ocorre pelo contato com animais silvestres, sendo os roedores os principais responsáveis pela transmissão e não os macacos. O nome monkeypox (varíola dos macacos) é decorrente do fato do vírus ter sido descoberto em 1958, em colônias de macacos mantidos para pesquisa na Dinamarca. Entretanto, estes não são hospedeiros usuais do vírus e não são acometidos pela doença.
No surto de 2022, a monkeypox tem se apresentado de forma diferente dos casos anteriormente descritos na África. Os principais sintomas são lesões na pele que podem ser vesículas (bolhas), pústulas (bolhas com pus), manchas e crostas, que podem aparecer em qualquer parte do corpo, inclusive nas áreas genitais, com poucas ou muitas lesões. Em alguns casos, pode haver dor e sangramento retal. Podem estar associados também a sintomas gerais como febre, dor de cabeça, presença de ínguas, cansaço e sintomas respiratórios.
Além das feridas, pode-se observar sintomas sistêmicos como febre e dor de cabeça, presença de ínguas, cansaço, sintomas respiratórios, edema no pênis, dor de garganta, dor anal com sangramento também foram descritas.
Em caso de suspeita, quais medidas devem ser tomadas?
No caso de suspeita da doença, deve-se procurar assistência médica para que sejam realizados testes laboratoriais para diagnóstico. Além disso, a pessoa deve cobrir as feridas (roupas ou gaze), evitar contato com outras pessoas e usar máscara.
O principal caminho para a prevenção é o diagnóstico precoce e isolamento de todas as pessoas infectadas para reduzir a transmissão. Acredita-se que as vacinas para varíola sejam eficazes na prevenção da monkeypox, entretanto, como esta doença está erradicada no mundo, a vacinação foi interrompida no final da década de 1970. A vacinação após o contato com casos confirmados ou dos grupos de maior risco é também uma importante estratégia.
Nos estudos publicados, a média de tempo entre o contato e o início dos sintomas é de oito dias, mas pode variar de quatro a 21 dias.
Já há casos descritos de pessoas assintomáticas e de pessoas sem lesões de pele e com sintomas gerais. Mas não sabemos ainda se estas pessoas são capazes de transmitir o vírus.
Sim, o isolamento é importante para reduzir o número de casos e diminuir a transmissão. O isolamento só pode ser interrompido depois que todas as lesões de pele desaparecerem, caírem as casquinhas e pele nova esteja sendo formada, o que demora cerca de duas a três semanas.
No surto atual, a maior parte dos quadros é leve e não é necessária internação. A mortalidade é bem baixa, mas pode ocorrer em pacientes com a imunidade comprometida. Crianças e gestantes também podem ter quadros mais graves.
As lesões tipo bolha e bolha com pus são os melhores materiais para coletar e fazer o exame de PCR. Assim que elas surgirem o teste já pode ser realizado. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) é o diagnóstico molecular, um teste PCR, a exemplo da Covid-19, que permite mais agilidade e precisão. A partir de amostras das lesões na pele, ele identifica a molécula de DNA do patógeno, com especificidade e sensibilidade de quase 100%. O resultado sai em até quatro dias corridos. No exame, são coletados dois tubos com amostras de duas lesões diferentes.
A transmissão pode ocorrer enquanto houver lesões na pele.
A taxa de transmissão, o RT para a monkeypox ainda não é conhecida, mas acredita-se que não seja tão grande quanto a da Covid-19.
Acredito que estejamos no início do surto e teremos muitos casos ainda. Neste momento, precisamos conscientizar a população, especialmente a que tem maior chance de se contaminar, que, hoje, são as pessoas com múltiplos parceiros sexuais. Além dos profissionais de saúde, para lembrarem da varíola dos macacos como diagnóstico diferencial dessas outras doenças.
*As informações são do Estado de Minas.
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